domingo, 13 de abril de 2008
Vitor Vogas
vvogas@redegazeta.com.br
Na Enseada do Suá, o cidadão capixaba pode admirar um monumento cuja
beleza se equivale à sua importância cultural: a Cruz Reverente,
celebrada como Cruz do Papa, doada por uma empresa a Vitória quando o
Papa João Paulo II visitou a cidade. Não muito longe dali, na
Assembléia Legislativa, esse cidadão encontrará a mesma imagem, só que
em miniatura. Trata-se de uma réplica da cruz, exibida com certo
destaque na parede do plenário da Casa. O crucifixo afixado no
principal órgão legislativo do Estado não poderia ser mais natural,
pois, além de simbolizar o Espírito Santo, representa a fé do povo
capixaba, que, tal como em todo o país, é majoritariamente cristão. A
última frase reflete o pensamento coletivo, mas, na verdade, não há
paz sobre esse assunto.
A ostentação de crucifixos e bíblias, símbolos máximos do cristianismo
– e, mais especificamente, do catolicismo – , em espaços do poder
público é centro de uma grande controvérsia, por um motivo essencial:
para muitos políticos, teólogos e juristas, essa "convivência" afronta
a noção de Estado laico (ou leigo), consagrada desde que o Brasil se
entende por República e reafirmada pela Constituição de 1988.
É o que entende, por exemplo, o teólogo Wanderley Pereira da Rosa,
diretor da Faculdade Unida e responsável pela disciplina História do
Cristianismo. Apesar de reconhecer avanços na consolidação do Estado
laico, o professor ressalta a preservação de elementos religiosos
dentro dele, que podem nublar a fronteira entre Estado e religião.
"Embora previsto na Constituição, o Estado laico está muito mais no
papel do que na vida das pessoas. Alguns insistem em manter elementos
da Idade Média em pleno século 21. Há resquícios do catolicismo
espalhados pelos três poderes, em espaços como repartições públicas e
escolas mantidas pelo Estado. Acredito que eles não deveriam ser
ostentados."
gazetaonline.globo.com/jornalagazeta/pol
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